domingo, 18 de novembro de 2012

Há 10 anos, Inter evitava rebaixamento em jogo histórico e iniciava nova fase.


Time colorado venceu o Paysandu por 2 a 0 no dia 17/11/2002 e se manteve na Primeira Divisão. Há 10 anos, Inter evitava rebaixamento em jogo histórico e iniciava nova fase Fernando Gomes/Agencia RBS

Luiz Alberto, Fernando Baiano, Leandrão e Chris, comemoram o resultado de 2x0 salvou que o Inter do risco de rebaixamento em 2002Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
Faz tempo. Tanto tempo que o Inter singrou o Brasil em um voo da Vasp para construir um marco da sua história. A Batalha de Belém não derrubou o clube. Ao contrário, o impulsionou para escalar a jato o Olimpo dos campeões. Neste sábado, completa-se 10 anos da vitória de 2 a 0 sobre o Paysandu que livrou o time do rebaixamento e da desgraça da Segunda Divisão: 17/11/2002. Uma data para esquecer? Não, claro que não. Porque foi depois desse dia que tudo foi diferente no Inter.
Assisti à Batalha de Belém no front. Fui escalado por Zero Hora com o fotógrafo Fernando Gomes, velho companheiro de viagens, para cobrir esse jogo. Tenho vivo cada detalhe que testemunhei em quatro suarentos dias no bafo da capital paraense. E não foram poucos.

A própria viagem até Belém foi ímpar. No dia anterior, uma quarta-feira 13, o Inter havia perdido para o Cruzeiro por 1 a 0 e mergulhado fundo na zona de rebaixamento. Jogadores como o zagueiro Luiz Alberto e o atacante Mahicon Librelato deixaram o campo aos prantos, com promessas de ficar em 2003 para tirar o time da Série B. A condenação parecia inevitável. No vestiário, o técnico Cláudio Duarte percebeu o clima de velório e, com os dirigentes, arquitetou a antecipação da viagem para dali a 12 horas. O único voo disponível era da Vasp. Perto da bancarrota, a Vasp usava de todos os artifícios para sobreviver. Como, por exemplo, fazer voos pinga-pinga. Até Belém, o Inter parou em São Paulo, Goiânia e Brasília.
As últimas duas escalas coincidiram com os jogos da quinta-feira. De dentro do avião, Librelato ligava para casa e ordenava à irmã:
– Agora muda de canal. Quanto está esse jogo? Coloca no outro canal. E esse jogo?
Lembro da festa dos jogadores ao ouvir o atacante anunciar que os resultados estavam a favor do Inter. Em Belém, um misto de tensão e desconfiança impregnava o ar do Hotel Sagres. Jogadores do Paysandu, como o volante Élson, ex-Inter, e o técnico Hélio dos Anjos moravam lá. Os rumores de ações nos bastidores feitas pela direção, nunca comprovadas, brotavam em cada canto e cada conversa.
O presidente Fernando Carvalho, acompanhado da mulher e dos filhos, Samantha e Martin, era o retrato da aflição colorada. Parecia carregar o mundo nas costas. Olheiras cinza chumbo desciam até a maçã do rosto. O sono só chegava em doses potentes de tranquilizantes. Em 16 anos de convivência com ele, sujeito polido e educado, foi lá que ouvi seu único não para uma entrevista:
– Me desculpe, não tenho condições de falar.
Os dias em Belém eram pesados. Antes e depois da chuva. Lá, o dia é dividido pelo aguaceiro que encharca a cidade às 15h. Dura menos de 10 minutos. Depois dele, sobe um bafo. A temperatura passa fácil dos 35ºC. Até os locais sentem o clima. Eu e o Fernando Gomes caminhávamos para a Curuzu, estádio do Paysandu, quando do outro lado da avenida um motorista de ônibus cochilou e bateu em um poste. O estrondo e os fios de luz chicoteando no asfalto a poucos metros nos fizeram correr _ e nos escondemos atrás de carros estacionados.
Ainda nos recuperando do susto, chegamos ao treino do Paysandu. Minutos antes de Hélio dos Anjos desembarcar seu corpanzil de 1m90cm de um táxi e ser rodeado por torcedores no pátio enlameado do estádio. Me aproximei de Hélio. Nos conhecíamos desde 1997, quando treinou o Grêmio. A acolhida foi pouco amistosa. Mas aceitou rápida entrevista.
– Vamos enterrar o Inter – trovejou.
Hélio, é claro, massageava o ego dos torcedores ao seu redor. Mas também era reflexo do clima de desconfiança que pairava na cidade acerca da lisura do jogo. Muito por uma manobra tática do então vice-presidente Arthur Dallegrave. Com seu sorriso escandido, ele embarcava em um táxi, se apresentava como dirigente do Inter e perguntava ao motorista:
– Sabe onde é a casa do goleiro do Paysandu?
Descia do táxi, pegava outro e repetia a dose. E assim passou horas. Disseminou-se na cidade a informação de que Marcão estava na gaveta. Por precaução, jogou o terceiro goleiro, Róbson.
No hotel do Inter, Carvalho e homens de sua confiança, como o vice-presidente Luís Anápio Gomes, amigo de longa data, tentavam mobilizar o time. Havia a desconfiança de que Fernando Baiano tirava o pé nos jogos em resposta aos seis meses de atrasos nos direitos de imagem. Na manhã de domingo, horas antes do jogo, Carvalho o chamou para conversa no seu quarto:
– E aí, cara, tu vais jogar ou não? Qual a tua?
Fernando Baiano prometeu jogar a morrer. A conversa foi abreviada por uma crise de choro do centroavante. O mesmo Baiano foi protagonista no intervalo do jogo. Ao entrar no vestiário do Mangueirão, foi interpelado pelo zagueiro Luiz Alberto. Rebateu, e o tempo fechou. Cláudio Duarte esperou o fim da peleia, serenou os ânimos e repassou instruções para o segundo tempo.
O intervalo foi como sessão de terapia. Baiano fez o cruzamento para Librelato marcar de carrinho o 1 a 0. Depois, fez 2 a 0 de falta. Os resultados paralelos ajudavam. Nas tribunas, Carvalho parecia entorpecido. A mulher lhe dava água na boca, como criança. O primeiro gol do Inter provocou vibração no camarote improvisado. Os paraenses da volta reagiram. O segundo teve comemoração ainda mais forte. O tempo esquentou, e a polícia orientou: "É melhor sair". Insistiu com isso até os 47 minutos. Ninguém arredava pé.
Convencido de que o mais seguro era ir para o vestiário, Carvalho puxou a fila. No subsolo do recém reformado Mangueirão, encontrou os filhos. Se abraçaram. O presidente chorou em alto volume, como se colocasse para fora uma tonelada de tensão. No campo, encontrou o massagista Juarez Quintanilha ajoelhado, aos prantos.
– Presidente, é o Inter,  presidente, é o Inter – repetia Juarez.
Em seguida, Clemer surgiu do nada e abraçou Carvalho:
– Esse clube é muito grande para cair, p.!
Os paraenses deixaram o Mangueirão revoltados, aos gritos de "marmelada". A chevrolet Zafira do gerente de futebol do Paysandu foi demolida no estacionamento. Jornalistas paraenses nos orientaram a fechar a porta da sala de imprensa, de onde transmitíamos o material do jogo. A festa do Inter varou a madrugada no hotel. Que ganhou um recado no mural:
– Segunda Divisão, nunca!

Ajuda paralelaO Inter não podia empatar a partida contra o Paysandu que cairia. Além da vitória, como estava na zona de rebaixamento, precisava de dois de três resultados paralelos ou que Bahia e Portuguesa empatassem:
O Palmeiras não vencer o Vitória, em Salvador
Resultado: Vitória 4x3 Palmeiras
O Paraná não vencer o Figueirense, em Florianópolis
Resultado: Figueirense 2x2 Paraná
Um empate entre Bahia x Portuguesa, em Mogi Mirim
Resultado: Portuguesa 2x4 Bahia
Caíram: Portuguesa, Palmeiras, Gama e Botafogo

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