Os 50 anos do Golpe de
64, potencializou nas últimas semanas as discussões sobre a ditadura
militar. Toco nesse assunto com a certeza de que esse período de mais de
duas décadas, manchado por torturas e mortes, marca a história de
guerreiros que lutaram pela liberdade social do nosso país.
Confesso que a nossa
recente democracia, que já alcançou grandes vitórias, ainda precisa
evoluir muito. Não sofremos mais das ordens militares armadas, com
perseguição e exílio, mas ainda convivemos com os abusos de uma mídia
preconceituosa de direita, que manobra a opinião pública e,
surpreendentemente, nos deparamos com a força autoritária de uma justiça
que age com dois pesos e duas medidas, culminando em prisões injustas.
Digo isto de coração
aberto, como filho de José Dirceu, um líder da resistência, que em 1968
foi preso e deportado do país por sonhar com um Brasil onde os cidadãos
pudessem ser atores políticos e donos de sua própria forma de expressão,
numa época em que se falar em pobreza, igualdade social e acesso à
saúde significava ser taxado de comunista.
Fico emocionado ao
lembrar do sofrimento da minha avó que ficou 10 anos sem notícias do seu
filho e da preocupação da minha mãe que a todo momento temia que eu
fosse sequestrado como forma de retaliação dos militares. Quando os
resultados desse sacrifício começaram a acontecer, o pesadelo voltou.
Meu pai vive hoje mais
uma vez a prisão, depois de um julgamento sem provas, injusto e pautado
pela grande imprensa. Ele paga o preço caro por ter lutado contra a
ditadura e participado a partir da década de 80 do processo de
redemocratização do país, quando ajudou na fundação e teve papel
decisivo na construção do maior partido político do Brasil, o PT.
Assume com coragem o fato de ser um homem que não nega a superação de
grandes desafios, como no caso em que, junto com outros companheiros,
atuou na instauração da CPI que teve como consequência o impeachment do
Collor.
Aos 68 anos de idade,
“O Zé guerreiro do povo brasileiro” carrega nos ombros o peso por ter
contribuído na construção de um projeto político que levou o primeiro
siderúrgico a ocupar o cargo de presidente do Brasil e a tirar mais de
36 milhões de brasileiros da miséria.
Hoje, condenado ao
regime semi-aberto, meu pai está mantido há mais de 130 dias em regime
fechado, sem autorização para trabalhar. Um absurdo incabível! Uma prova
de que ainda estamos submetidos a padrões ditadores e autoritários que
não respeitam o ser humano e seus direitos constitucionais.
Para provar a
parcialidade no tratamento do caso, na semana passada o STF- Supremo
Tribunal Federal concedeu corretamente a Eduardo Azevedo – do PSDB, o
direito de ser julgado no mínimo em duas instâncias judiciárias, o que
foi negado a meu pai. O STF provou ser justo com o PSDB e injusto com o
PT, isto é inaceitável!
Como se tudo ainda
fosse pouco, meu pai ainda é acusado de se favorecer de privilégios na
cadeia. Uma piada de mau gosto se o observador fizer uma reflexão mais
profunda e observar a verdade, longe da superficialidade enganadora da
comunicação de massa. Qual é o privilégio? Ser julgado sem direito a
recurso? Qual é o privilégio? Ser condenado sem provas? Qual o
privilégio? Ser condenado a semi-aberto e cumprir em regime fechado?
É assim que a
oposição, que não consegue nos vencer nas urnas, tenta nos destruir com o
seu poder típico rasteiro. Não irá funcionar, porque continuamos com
punhos cerrados e não fugimos da luta. Não teremos medo de enfrentar
novamente a repressão da grande mídia maquiada com o rótulo mentiroso da
transparência e venceremos mais uma vez a noite escura, desta vez
assombrada pelo autoritarismo judiciário.
A prisão, por um
determinado tempo, poderá continuar a conter a ação física dos
revolucionários dos anos 60 e 70, mas nunca conseguirá aprisionar os
seus ideais e sonhos. O trabalho continua forte porque a nossa
disposição em executar este grande projeto político pelo povo brasileiro
é gigante.
A luta continua!