terça-feira, 18 de março de 2014

Quem é o culpado?

Ney Bello, desembargador federal do Maranhão, sobre o presídio de Pedrinhas.
Pensar que mais policiamento e mais presídios é a solução é enfiar a cabeça no buraco, como avestruz, e fazer de conta que não é com ele.

Na penitenciária de Pedrinhas, esta massa de excluídos, condenados e miseráveis chega desde este universo em que o Estado lhe nega tudo, e onde é impossível viver sem violência.

Neste estado d'arte, de completa ausência de humanidade, de falência do Estado, de descontrole da administração do espaço, o que nos assegura que nossos quintais não sejam invadidos e as espoletas estourem os nossos miolos, na primeira oportunidade? O que têm a perder os excluídos da cidade – reduzidos à essência animal – que os fazem não invadir todos os quintais do mundo?

O complexo de Pedrinhas não é mais uma penitenciária. É uma trincheira do crime. É uma escola de delinquência que somente existe por que criamos uma fábrica de exclusão social, fabricamos uma usina de miséria, nos afogamos num mar de corrupção, envoltos numa ausência também criminosa.

Vamos eternamente nos prender ao círculo vicioso de deter, desumanizar e matar? Vamos criminalizar a exclusão, punir a miséria, mergulhar num genocídio dos miseráveis e criminosos – embora degradantes e degradados – e manter intacta a máquina que constrói esses perfis?

Você que me lê e eu que escrevo somos a minoria pelo simples fato de sermos alfabetizados para além de sabermos desenhar o nome; e somos mais minoria ainda por que podemos escrever em um computador e comprar um jornal para ler.

Quem são os culpados e o que podemos fazer? Nossa origem portuguesa e cristã europeia sente necessidade de procurar culpados. Ouso dizer que culpados somos todos nós. Por omissão ou por ação, permitimos que tudo chegasse aonde chegou. Uns de nós bem mais – outros um tanto menos – fechamos os olhos para a violência e a degradação que invadiu os quintais do nosso mundo.

Precisamos urgentemente de menos dinheiro gasto em campanhas eleitorais; menos corrupção; mais investimentos em saúde, educação, mobilidade urbana, moradia e tudo o mais que pode fazer do bicho que existe dentro de cada ser, um verdadeiro homem. Menos egocentrismo elitista e mais humanismo, talvez ajudassem. É certo que mais policiamento, mais segurança e mais presídios são metas prementes, porém incapazes de resolver o problema que se instaurou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Casa no Jardim Porto Alegre.

Imobiliária Brasil Prime, CRECI J 6380. Vende Casa Localizada no Jardim Porto Alegre. Cód. 430 Valor R$ 500.000,00. Com aproximadamente 17...