Ney Bello, desembargador federal do Maranhão, sobre o presídio de
Pedrinhas.
Pensar que mais policiamento e mais presídios é a solução é
enfiar a cabeça no buraco, como avestruz, e fazer de conta que não é com
ele.
Na penitenciária de Pedrinhas, esta massa de excluídos, condenados e miseráveis chega desde este universo em que o Estado lhe nega tudo, e onde é impossível viver sem violência.
Neste estado d'arte, de completa ausência de humanidade, de falência do
Estado, de descontrole da administração do espaço, o que nos assegura
que nossos quintais não sejam invadidos e as espoletas estourem os
nossos miolos, na primeira oportunidade? O que têm a perder os excluídos
da cidade – reduzidos à essência animal – que os fazem não invadir
todos os quintais do mundo?
O complexo de Pedrinhas não é mais
uma penitenciária. É uma trincheira do crime. É uma escola de
delinquência que somente existe por que criamos uma fábrica de exclusão
social, fabricamos uma usina de miséria, nos afogamos num mar de
corrupção, envoltos numa ausência também criminosa.
Vamos
eternamente nos prender ao círculo vicioso de deter, desumanizar e
matar? Vamos criminalizar a exclusão, punir a miséria, mergulhar num
genocídio dos miseráveis e criminosos – embora degradantes e degradados –
e manter intacta a máquina que constrói esses perfis?
Você
que me lê e eu que escrevo somos a minoria pelo simples fato de sermos
alfabetizados para além de sabermos desenhar o nome; e somos mais
minoria ainda por que podemos escrever em um computador e comprar um
jornal para ler.
Quem são os culpados e o que podemos fazer?
Nossa origem portuguesa e cristã europeia sente necessidade de procurar
culpados. Ouso dizer que culpados somos todos nós. Por omissão ou por
ação, permitimos que tudo chegasse aonde chegou. Uns de nós bem mais –
outros um tanto menos – fechamos os olhos para a violência e a
degradação que invadiu os quintais do nosso mundo.
Precisamos
urgentemente de menos dinheiro gasto em campanhas eleitorais; menos
corrupção; mais investimentos em saúde, educação, mobilidade urbana,
moradia e tudo o mais que pode fazer do bicho que existe dentro de cada
ser, um verdadeiro homem. Menos egocentrismo elitista e mais humanismo,
talvez ajudassem. É certo que mais policiamento, mais segurança e mais
presídios são metas prementes, porém incapazes de resolver o problema
que se instaurou.
terça-feira, 18 de março de 2014
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