terça-feira, 4 de novembro de 2014

O MUNDO DOS BOBOCAS NÃO É O NOSSO MUNDO.


Por Plinio Zalewski Vargas
Não vou me perder aqui no mundo dos bobocas, esse espaço alienado dos grandes acertos políticos e interesses privados, onde batem boca a arraia miúda dos partidos políticos, os cabos eleitorais pagos e as clientelas capturadas pelos líderes partidários, cujas necessidades são atendidas nos balcões do patrimonialismo e do clientelismo do Estado brasileiro.
No segundo turno das eleições, quando o medo bateu no status quo, prosperou no mundo dos bobocas a fofoca de que as “zelites” preparavam um golpe contra Dilma e o PT e pouca gente na auto proclamada esquerda preocupou-se em encontrar qualquer fundamento no “diz que”. Bastou que os chefes garantissem a ameaça.
Decidida a parada dura no último dia 26, não faltaram os que disseminassem que o processo eleitoral fora fraudado contra Aécio e mais uma vez muitos bobocas acharam o que fazer, mantendo acesa a guerra na web e bem menos nas ruas.
Quero saber, na verdade, como o governo e os parlamentares eleitos conduzirão as reformas política, tributária e do Estado? Como ficaremos livres dessa conversa de que o Rio Grande do Sul terá tantos recursos quanto maior for a amizade do governador com a presidente, numa versão atualizada da queima das bandeiras dos estados, promovida por Getúlio Vargas durante sua ditadura de 15 anos?
A República brasileira é tão primária e sua classe política tão desprovida de dignidade, estatura e senso de realidade – como boa parte das nossas elites, no sentido relembrado por Marina Silva – que o Bolsa Família, o Pronatec e quejandos tornam-se, inapropriadamente, aquilo que a boa sociologia classifica como os temas relevantes que devem ocupar o tempo das instituições.
Não por acaso, terminadas as eleições, a grande conclusão sobre a reforma política, por exemplo, é que ela poderá (sic) ser decidida por meio de um plebiscito ou um referendo. E no mundo dos bobocas, alguém sabe dizer o que pensam sobre isso Dilma e Aécio?
Brabo mesmo é encontrar boa parte dos vícios que movem nosso sistema e a cultura política de nossos bobocas em muitas passagens do século XX. Partidos ocos, políticos movidos por interesses pessoais ou de pequenos bandos; corrupção em todos os níveis do Estado e parcelas expressivas da população ávidas por alguém que as salve das suas próprias vidas.
A diferença, hoje, é que acumulamos um Estado e uma República meia boca, com uma crise que, recorrente desde 1914, corrói o sistema representativo, fundado na ideia de partidos políticos. Em verdade, há cem anos temos um acordo tácito, pelo qual fazemos de conta que acreditamos que os partidos políticos nos representam e através deles fazemos valer nossos interesses e ideais. Mas sabemos, nós que não frequentamos o mundo dos bobocas, que isso não é verdadeiro.
Esse é um tema delicado, bem sei. Os bobocas situados à esquerda repetem o mantra de que criticar os partidos é o esporte preferido dos fascistas, mesmo que a tradição do socialismo nesta matéria não os recomende.
Já os bobocas situados para os lados opostos, gritam de pavor diante do que consideram uma ameaça ao parlamento e á liberdade, embora muitos, não todos, é claro, não condenem todas as vezes em que ele foi fechado por golpes e contragolpes.
Os partidos são uma invenção absolutamente humana. Segundo Hannah Arendt, em Origens do Totalitarismo, foi a ideia de partido que pôs abaixo as Repúblicas Elementares e os Conselhos na América e na França revolucionárias, com sua inclinação para interditar as capacidades de iniciar e mover coisas novas e também a espontaneidade , tipicamente humanas.
Então, o que fazer, perguntaria o velho Lênin. Por óbvio, não tenho muitas respostas, mas suspeito que num tempo tão interessante, no qual conhecimento, informação e hiper-reflexão concorrem com o mundo dos bobocas, com vantagens comparativas muito importantes - inovação e criatividade, por exemplo – as chances de sucesso na reinvenção da política e na cocriação da democracia são enormes.
Archein – iniciar – e prattein – mover. Eis o desafio da Política.

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